A corda bamba do primeiro emprego

Manter o equilíbrio e driblar a insegurança são um dos principais desafios do jovem recém-formado

por Júlia Pontes e Renata Bellato

Nascemos e, nem bem crescemos, somos cobrados. Quando iremos dar os primeiros passos ou primeiras palavras, como será o nosso desempenho na escola, quando escolheremos a nossa profissão e daí por diante. As cobranças e expectativas nunca cessam e vem de todos os lados. Os pais esperam dos filhos, os filhos esperam dos pais e a sociedade requer de todos. Sem exceção. Mas, especialmente para os jovens, essa situação pode e é, na maioria das vezes, bem mais complicada.

Na adolescência, fase compreendida entre os 15 e 24 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde, é marcada pela transição entre a infância e a vida adulta. Nesse período de transformação, ocorre o desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social, onde o indivíduo é acometido por um turbilhão de sentimentos. Geralmente, em simultaneidade com essa etapa, está a vida acadêmica e todas as implicâncias que o ensino superior traz.

Depois dos quatro ou cinco anos de curso, na maioria dos casos, o sujeito se vê diante de um dilema: o primeiro emprego. O que na verdade deveria ser a primeira vitória na vida de um recém-formado, acaba se tornando um grande peso. Nem sempre a primeira admissão acontece logo após a formatura e, nesse meio tempo, as cobranças, mesmo que de maneira implícita, chegam até a consciência. Existe uma ideia vigente na sociedade de que o próximo passo, logo após a conquista do diploma, é a obtenção de autonomia e sucesso através de um bom salário.

“Me preocupa muito essa carga de responsabilidade que o jovem traz a partir do momento que ele está formando”, conta a doutoranda em administração com foco em desenvolvimento de pessoas, Adriana Ferreira, “Ele acredita que vai ter que entrar no mercado de trabalho e ganhar seu um milhão antes dos 30 anos. O que não é verdade”. Para a especialista, o principal desafio do recém-formado é a sua inserção no mercado de trabalho de maneira saudável. O jovem deve, em primeiro lugar, descobrir qual o seu potencial, os seus valores e entender a sua dinâmica interior, e a partir daí, descobrir qual o seu foco e mantê-lo.

O autoconhecimento, que deveria servir de ponto inicial para qualquer projeto profissional, não é ensinado em nenhuma universidade e o resultado disso são jovens cada vez mais ansiosos e temerosos por um futuro incerto, antes mesmo de chegarem ao mercado de trabalho. Aceitar e reconhecer a insegurança, que é normal, é importantíssimo, assim como procurar a ajuda de um profissional. Afinal de contas, esse tipo de incerteza é mais do que natural, já que esse “mundo” é totalmente, ou parcialmente, desconhecido.

Os veículos de comunicação em geral, acabam vendendo a ideia para a sociedade usualmente, incluindo o recém-formado, de que dinheiro é sinônimo de sucesso. E quando o retorno financeiro não acompanha essas expectativas, a frustração aparece como uma assombração. Quando questionada se um bom faturamento ao final do mês é o maior triunfo de um profissional, Adriana esclarece: “Depende. Depende do valor que cada jovem tem. Se o jovem estima por sua realização, por exemplo, ele nunca vai estar atrás do dinheiro especificamente. Para outros, ganhar dinheiro é seu sucesso”.

Para a psicóloga e professora universitária, Janete Capel Hernandes, a grande dificuldade do jovem é justamente conseguir vislumbrar algo além da sala de aula e enxergar as diversas oportunidades que o mundo oferece. “A sala de aula é um mundo muito pequeno”, diz.  Essa é uma das preocupações da estudante de Ciências Contábeis, Amanda Mércia “Muitas vezes o que aprendemos na faculdade é algo mais teórico e um tanto diferente do que é realizado na prática”. A psicóloga lembra que os estágios e monitorias trazem mais segurança ao jovem e podem ser uma boa oportunidade de experimentar a realidade de cada profissão.

Quem está começando, seja no mercado de trabalho ou em qualquer outra área, tem muitos sonhos e expectativas, que nem sempre se concretizam. “O recém-formado pensa que tudo é muito definitivo na vida. Mas nem toda escolha é absoluta, existem várias possibilidades a se experimentar”, explica Janete. Quando lançamos mão de um olhar restrito, lidar com frustrações é algo muito difícil, “quando a pessoa não consegue enxergar de forma mais ampla, a frustração é maior”, garante a profissional.

Dos familiares costuma vir o maior encorajamento para que os jovens adentrem a esse mundo novo, o que é crucial. Entretanto, além da sociedade e do próprio recém-formado, existe uma cobrança vinda da família que, mesmo de maneira implícita, requer o investimento. “Do nosso ponto de vista, que inclui toda a sociedade, inclusive a mim, a família tem que dar assistência até o ponto de oferecer a graduação. Depois disso, é a nossa parte de retribui-los”, aponta a estudante de direito, Thayná Guimarães.

Essas são questões pontuais que dificilmente vão se alterar e cabe aos jovens recém-formados lidar com essas dificuldades. Assim como outros desafios com os quais nos deparamos ao longo da vida, o primeiro emprego pode não dar certo. E não há problema nisso. Adriana Ferreira salienta o que na psicologia é chamado de Intenção Positiva, “Todas as coisas que os seres humanos fazem, por detrás existe uma intenção positiva. Esse não é um conceito para justificar erros, mas para que as pessoas possam, a partir dele, refletir e mudar aquilo que for necessário”. Tanto o sucesso, quanto a frustração geram aprendizado. O segredo é extrair de toda a situação algo proveitoso.


Primeira imagem à direita: cordabamba
Imagem à esquerda: interrogação
Segunda imagem à direita: duvidas

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