quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A diversão que atrapalha

Jogos online produzem danos à infância e a longo prazo, alertam psicólogos 

por Júlia Pontes e Renata Bellato

As luzes coloridas e os jogos cada vez mais criativos são alguns dos elementos que despertam o brilho nos olhos das crianças sobre os aparelhos tecnológicos. Os tempos são outros. Ao invés de implorar a seus pais mais cinco minutos de brincadeiras nas ruas ou na casa daquele amigo, a criança hoje suplica mais dez minutos em frente aos smartphones, tablets e videogames.

A pesquisa TIC Crianças 2010, realizada pelo NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), contou com respostas de 2.516 crianças de cinco a nove anos em todo o Brasil. Os dados apontam que 59% das crianças já utilizaram um celular, enquanto que a porcentagem daquelas que já têm o próprio aparelho varia: 24% com nove anos de idade, 16% aos seis anos e 7% aos cinco.

Por mais divertido e prático que possa ser o entretimento com essas novas tecnologias, o excesso de exposição atrapalha o desenvolvimento de uma infância saudável, tanto do ponto de vista físico, quanto psicológico. A pediatra Áurea Menezes concorda que esse uso, quando limitado pelos pais, ajuda na memória e no raciocínio, mas "Toda criança precisa de atividade física. A diversão concentrada apenas em celulares e afins forma uma criança sedentária, prejudicando seu metabolismo", afirma.

O sedentarismo na infância acaba fazendo com que a criança tenha uma alimentação ruim, tornando-a suscetível a ser obesa e a ter problemas como pressão alta e diabetes. Sem contar que a visão é forçada o tempo todo, o que causa problemas a longo prazo, como a miopia (dificuldade de ver ao longe), a hipermetropia (dificuldade para ver de perto), e a vista cansada (dificuldade para enxergar de perto e de longe).


Imagem: tablets

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mentira levada a sério

Mentir de vez em quando é até saudável, mas essa prática pode sim se tornar doentia

por Júlia Pontes e Renata Bellato

"-- Não chore, Pinóquio! -- disse a Fada Azul abrindo com a sua varinha mágica o cadeado da gaiola. -- Sempre que você mentir seu nariz o denunciará e crescerá (...)". A fábula do Pinóquio é conhecida por muita gente e conta a história de um bonequinho de madeira que ganhou vida através da mágica de uma fada. Toda vez que ele mentia, seu nariz dobrava de tamanho.

Muitos pais contam essa narrativa para seus filhos na tentativa de incentivá-los a não mentir na infância e na vida adulta. Mas a verdade é que todo mundo um dia já mentiu, seja para se safar de um compromisso, para não ser indelicado, ou por medo do que a verdade poderia causar. É até saudável e nem sempre é possível ser sincero em todas as situações.

A mentira é tão intrigante para nós que uma das coisas que mais almejamos é poder descobrir quando alguém está ou não mentindo. A psicologia estuda a linguagem corporal e, segundo ela, há algumas formas de saber isso. Camila Gomes, psicóloga, afirma que geralmente o indivíduo tende a piscar muito e não consegue manter o olhar fixo em seu interlocutor no momento em que está contando a mentira.

Só que ela alerta que isso não é algo exato. Existe muita gente que possui dificuldade de fixar o olhar na pessoa que conversa, por motivos de ansiedade ou outros problemas, e isso não quer dizer que ela esteja, necessariamente, mentindo.

Deixar de falar a verdade algumas vezes, e sem segundas intenções, é normal, faz parte da condição humana. A psicóloga Tatiana Faion Fontanari afirma que muitas vezes as pessoas mentem para serem aceitas socialmente, crianças mentem para satisfazerem os pais, ou por pressão e imposição. "Em ambientes muito invasivos, julgadores e dominados pelo autoritarismo acabam mentindo para conseguir sobreviver, como um mecanismo de defesa", diz.

Só que o que pouca gente sabe é que mentir pode se tornar uma doença. De acordo com Tatiana, o indivíduo vê na mentira o melhor modo de se relacionar porque não suporta o conflito entre seus desejos e a frustração imposta pela realidade. Geralmente ele só deixa de mentir quando aceita a sua própria situação de precariedade. 


Imagem: pinoquio


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A corda bamba do primeiro emprego

Manter o equilíbrio e driblar a insegurança são um dos principais desafios do jovem recém-formado

por Júlia Pontes e Renata Bellato

Nascemos e, nem bem crescemos, somos cobrados. Quando iremos dar os primeiros passos ou primeiras palavras, como será o nosso desempenho na escola, quando escolheremos a nossa profissão e daí por diante. As cobranças e expectativas nunca cessam e vem de todos os lados. Os pais esperam dos filhos, os filhos esperam dos pais e a sociedade requer de todos. Sem exceção. Mas, especialmente para os jovens, essa situação pode e é, na maioria das vezes, bem mais complicada.

Na adolescência, fase compreendida entre os 15 e 24 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde, é marcada pela transição entre a infância e a vida adulta. Nesse período de transformação, ocorre o desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social, onde o indivíduo é acometido por um turbilhão de sentimentos. Geralmente, em simultaneidade com essa etapa, está a vida acadêmica e todas as implicâncias que o ensino superior traz.

Depois dos quatro ou cinco anos de curso, na maioria dos casos, o sujeito se vê diante de um dilema: o primeiro emprego. O que na verdade deveria ser a primeira vitória na vida de um recém-formado, acaba se tornando um grande peso. Nem sempre a primeira admissão acontece logo após a formatura e, nesse meio tempo, as cobranças, mesmo que de maneira implícita, chegam até a consciência. Existe uma ideia vigente na sociedade de que o próximo passo, logo após a conquista do diploma, é a obtenção de autonomia e sucesso através de um bom salário.


“Me preocupa muito essa carga de responsabilidade que o jovem traz a partir do momento que ele está formando”, conta a doutoranda em administração com foco em desenvolvimento de pessoas, Adriana Ferreira, “Ele acredita que vai ter que entrar no mercado de trabalho e ganhar seu um milhão antes dos 30 anos. O que não é verdade”. Para a especialista, o principal desafio do recém-formado é a sua inserção no mercado de trabalho de maneira saudável. O jovem deve, em primeiro lugar, descobrir qual o seu potencial, os seus valores e entender a sua dinâmica interior, e a partir daí, descobrir qual o seu foco e mantê-lo.


Imagem: cordabamba