quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mentira levada a sério

Mentir de vez em quando é até saudável, mas essa prática pode sim se tornar doentia

por Júlia Pontes e Renata Bellato

"-- Não chore, Pinóquio! -- disse a Fada Azul abrindo com a sua varinha mágica o cadeado da gaiola. -- Sempre que você mentir seu nariz o denunciará e crescerá (...)". A fábula do Pinóquio é conhecida por muita gente e conta a história de um bonequinho de madeira que ganhou vida através da mágica de uma fada. Toda vez que ele mentia, seu nariz dobrava de tamanho.

Muitos pais contam essa narrativa para seus filhos na tentativa de incentivá-los a não mentir na infância e na vida adulta. Mas a verdade é que todo mundo um dia já mentiu, seja para se safar de um compromisso, para não ser indelicado, ou por medo do que a verdade poderia causar. É até saudável e nem sempre é possível ser sincero em todas as situações.

A mentira é tão intrigante para nós que uma das coisas que mais almejamos é poder descobrir quando alguém está ou não mentindo. A psicologia estuda a linguagem corporal e, segundo ela, há algumas formas de saber isso. Camila Gomes, psicóloga, afirma que geralmente o indivíduo tende a piscar muito e não consegue manter o olhar fixo em seu interlocutor no momento em que está contando a mentira.

Só que ela alerta que isso não é algo exato. Existe muita gente que possui dificuldade de fixar o olhar na pessoa que conversa, por motivos de ansiedade ou outros problemas, e isso não quer dizer que ela esteja, necessariamente, mentindo.

Deixar de falar a verdade algumas vezes, e sem segundas intenções, é normal, faz parte da condição humana. A psicóloga Tatiana Faion Fontanari afirma que muitas vezes as pessoas mentem para serem aceitas socialmente, crianças mentem para satisfazerem os pais, ou por pressão e imposição. "Em ambientes muito invasivos, julgadores e dominados pelo autoritarismo acabam mentindo para conseguir sobreviver, como um mecanismo de defesa", diz.

Só que o que pouca gente sabe é que mentir pode se tornar uma doença. De acordo com Tatiana, o indivíduo vê na mentira o melhor modo de se relacionar porque não suporta o conflito entre seus desejos e a frustração imposta pela realidade. Geralmente ele só deixa de mentir quando aceita a sua própria situação de precariedade. 


Imagem: pinoquio


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